TIROL
Rutilava a crina ao sol,
E toda a pelagem macia
Do velho cavalo Tirol,
Correndo à luz de todo dia.
Corria então a toda a brida,
Comendo o vento da estrada,
Pelas grandes ventas fendidas
E pela a boca ensaboada.
Fendido também é o seu couro,
Por um par de longas rosetas,
Segue o velho cavalo mouro,
Voando cego entre as gretas.
Vezeiro às trilhas solitárias,
Vai como um cataclismo são,
Vai Tirol sem indumentárias,
Quase a pêlo, pelo sertão.
Procurar reses espargidas
Em meio à chuva, em meio ao sol,
Ou nas planuras derruídas,
Ouçam o tropel do bom Tirol.
Mas da lida diária, exausto,
Pensou um dia o cavalo;
__Se eu pisasse de modo infausto,
Apenas um sutil resvalo,
Terminaria o meu asco,
A esse que trago montado,
Vendo-o rolar pelo penhasco,
“O comandante sem soldado”
Mas se num golpe de má sorte,
Somente eu rolar para o fundo?
Ele se livrará da morte,
E desse velho iracundo.
E o feno aqui é tão macio
E a água é fresca e abundante,
Por que então esse desvario
A rondar-me assim tão simpatizante?
SBC-SP- José Alberto Lopes®
28/04/2007