# CORAÇÃO DE FUMAÇA
Eu tenho cá dois corações em mim.
Um bate esplendido. Vivo por ele.
Mas um outro aqui está a desmanchar.
pensando que minha vida é só dele.
Toma meus afazeres para ocupar amores.
me faz flutuar leve no orvalho que esvai,
mas o sol quente da realidade a ele dissipa.
e das alturas imaginarias comigo cai.
Mesmo os amores estranhos e furtivos.
vão e vem com a velocidade do minuano.
assim, brincam com o coração de verdade,
deixando-o rasgado como um trapo de pano.
De modo que as alegrias são miragens tolas.
e a realidade surge logo adiante, e dolorida.
ao carrasco ficam expostos dedos sem anéis.
nunca houve chegada para a aparente partida.
A ração me tranquiliza sonolento na botija caseira,
mas sou buguelo a ciscar assustado por ai afora.
nada encontrando a teima me torna constante
outra ilusão dissipando a tudo anula por hora.
Mas embromado sinto que isso também e vida,
e o segundo coração com o primeiro faz trapaça,
ora, se tenho apenas um coração ainda de pedra.
melhor ter como reserva um coração de fumaça.