Fotografia de © Ana Ferreira
the Artic Light
the Artic Light
MUDAR
Era um rio de águas cristalinas,
Belo e gracioso em todo o seu curso,
Serpenteando entre as altas montanhas.
Parou em certo ponto do seu percurso,
Um obstáculo o impediu de avançar:
«Ah, atravanco inoportuno e imundo!
Como te atreves meu caminho barrar?
Afasta-te, pântano nauseabundo!»
O límpido e formoso rio não aceitou
Que à sua frente um pântano houvesse,
E mais uma e outra vez reclamou,
Bradando ao céu que o empeço desviasse.
Respondeu o céu: «Se queres chegar ao mar,
Terás que mudar e o pântano enfrentar!»
Caminhar é o próprio sentido da vida, mas quando algo nos assusta
no caminho, a tendência é paralisar. A mudança de um caminho diário
não raras vezes nos provoca medo. Mudamos a cada segundo, desde
que nascemos, contudo, mudar é um exercício desconfortável.
A transformação interior que nos impulsiona para a frente significa
esforço, pois requer desprendimento e sofrimento. Há pessoas que
veem nessa palavra - mudança - um novo sentido para a vida, novos
rumos; outras sentem-se ameaçadas, não querem sair da zona de
conforto. Se optarmos por evitar o sofrimento, acabaremos evitando
as coisas boas que a vida nos oferece gratuitamente.
Há milhares de tesouros escondidos em pântanos imundos.
Precisamos adentrar suas fétidas águas para descobri-los.
É preciso mudar o percurso, contornar os obstáculos para
que o rio da nossa vida se transforme em mar.
Ana Flor do Lácio