Calor
Calor de fritar os miolos
De ferver a tinta vermelha
De jorrar sal pelos poros
Calor de fraquejar as passadas
De deixar esqueleto mole
De querer gelar a goela
Calor como o dos infernos
De molhar a fronha da nuca
De colar a roupa tão junta
Calor que promove o desânimo
Da fome vir diminuta
Da fumaça que brota do chão
Calor sem vento
Daqueles implacáveis
Do sol inclemente
Calor que revira o asfalto
Cujas plantas imploram vidas
Cujo céu é a teimosia do azul
Calor é sempre claustrofóbico
Uma tortura impar
Uma chaga que insiste aberta
Calor que estorrica
Que tudo seca
Que a carne peca
Calor!
Que calor é esse
Que tanto aquece?
É o sol que se aconchega
Com o fogo que erra
Debaixo da terra!
Paulo Henrique Frias