É LONGA E NEGRA A NOITE E TE PRESSINTO
Enquanto a noite dorme lá fora,
o dia continua presente aqui,
desinquietando as pálpebras e o peito.
Queria adormecer a espera da manhã
no repouso de um silêncio certo
e não ver a lassidão das horas
escorrer pelos ponteiros.
É longa e negra a noite e te pressinto.
A noite é um pêndulo lento
caminhando indiferente
aos meus olhos feridos de luz.
Ainda é dia dentro da noite neste sonolento jardim
onde se agitam pensamentos em desalinho,
suscitando carência de afetos em mim...
(Ou será a carência de afetos
que desalinha os meus pensamentos?)
É longa e negra a noite e te pressinto.
Meu temor não é a tua ausência.
É antes a tua constante presença,
luz incandescente que ilumina
a noite de todos os meus dias
e o dia de todas as minhas noites.
É o que não me deixa dormir. Minha insônia.
Navalha cravada na dúvida da minha certeza.
É longa e negra a noite e te pressinto.
Uma mão leve, vigilante,
vem pôr fim a esta agonia.
Desce sobre mim,
trazendo a paz da letargia.
Teus são os dedos leves, calmantes,
que me fecham os olhos cansados.
Tua é a voz, tranquilizante,
que me sussurra doce canção.
Teu é o beijo, sedante,
que me beija a boca dos sonhos…
É longa e negra a noite e te pressinto.
Sinto-me adormecer.
E o meu peito é a tua folha em branco
que guarda segredos
e as palavras de amor eterno
que esperam ser escritas ao amanhecer.
Ana Flor do Lácio