Fuga

Parto

Com o cansaço de me ouvir chorar

Em delongadas roçadas de adeus

Apagando todos afáveis nomes

Que esfregamos em cada ladrilho do tempo

Quando sabias ser meu ar

Não vejo o além

Senão dentro de mim uma nascente

Serpenteando a solidão

Para junto de ninguém

A sós comigo mesmo

Jorrar meu afogado rio

Queria ter forças

Para endireitar meu sofrido semblante

Para apagar-me da nossa história

E numa margem diferente deste tumultuado mar

Deixar-me flutuante

Para que um outro amor me encontre

Mas que será de mim?

Se não um pano manchado

Ou o fumo fofocando o quanto ardi por dentro

Quando nas tuas mãos tudo era jardim

Quanto de mim ainda sabe ser amado?

Ou confiar no esforço de quem quiser?

Eu parto

Como partiria qualquer imagem duma reles fumaça

Desfeita antes da despedida

Denunciando a chama que me causou

Nas atrevidas lagrimas que me escondem do olhar

E no vazio que agora sou

Não anseio partir

Como a folia que transpira dum buquê de rosas

Ou o barulho borbulhado das aguas cristalinas

Quando ansiosas pelo colorido da natureza

Eu quero apenas outro vértice da distância

Uma visão sem tuas neblinas

Onde eu consiga enxergar o tamanho da minha tristeza

E o grito do meu desabafo

Basta-me esta decisão

Tao pouco me vale enxergar abraços no horizonte

Neles, estarei intrépido, seco e amolecido

Pelas amarras de um sentimento ainda na prisão

Buscando apenas um outro lugar para ser teu

Sem você saber que ainda te amo.

Odibar João Lampeão
Enviado por Odibar João Lampeão em 29/01/2014
Código do texto: T4669222
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