Fuga
Parto
Com o cansaço de me ouvir chorar
Em delongadas roçadas de adeus
Apagando todos afáveis nomes
Que esfregamos em cada ladrilho do tempo
Quando sabias ser meu ar
Não vejo o além
Senão dentro de mim uma nascente
Serpenteando a solidão
Para junto de ninguém
A sós comigo mesmo
Jorrar meu afogado rio
Queria ter forças
Para endireitar meu sofrido semblante
Para apagar-me da nossa história
E numa margem diferente deste tumultuado mar
Deixar-me flutuante
Para que um outro amor me encontre
Mas que será de mim?
Se não um pano manchado
Ou o fumo fofocando o quanto ardi por dentro
Quando nas tuas mãos tudo era jardim
Quanto de mim ainda sabe ser amado?
Ou confiar no esforço de quem quiser?
Eu parto
Como partiria qualquer imagem duma reles fumaça
Desfeita antes da despedida
Denunciando a chama que me causou
Nas atrevidas lagrimas que me escondem do olhar
E no vazio que agora sou
Não anseio partir
Como a folia que transpira dum buquê de rosas
Ou o barulho borbulhado das aguas cristalinas
Quando ansiosas pelo colorido da natureza
Eu quero apenas outro vértice da distância
Uma visão sem tuas neblinas
Onde eu consiga enxergar o tamanho da minha tristeza
E o grito do meu desabafo
Basta-me esta decisão
Tao pouco me vale enxergar abraços no horizonte
Neles, estarei intrépido, seco e amolecido
Pelas amarras de um sentimento ainda na prisão
Buscando apenas um outro lugar para ser teu
Sem você saber que ainda te amo.