GRITO DO SOLITÁRIO
Amador Filho.
Todos os sofrimentos da alma
É uma fome insatisfeita,
Uma fome de amor!
Nesta noite todo o meu ser está inativo.
Parei um pouco e fiz uma longa peregrinação
Até o fundo do meu próprio coração.
Caminhei ao longo do meu amor,
Como quem remonta à corrente
De um regato para achar-lhe a nascente.
Eu sofro. VAE SOLI! (Ai do solitário).
Chorar, não... Não chorei,
Porém tive que enxugar
As grandes bagas de suor
Que me orvalhava a fronte
Neste meu sofrido calvário.
Sinto frio no meu psiquismo.
Tenho que sair deste profundo abismo.
Preciso recomeçar novamente...
Talvez já seja tarde demais...
Para viver outro romantismo.
Agora? Amanhã? Decididamente
Fui um brinquedo de gente grande
De coração grosseiro e insolente,
E de princípios criminais.
Corpos coisas, de maldade abrangente.
Morte, personagem grotesca
Fazes-me rir. Aterrorizas o mundo
Enganas o homem iracundo.
Entretanto, só para a vida existes,
Nem és capaz de exterminar
O alguém que me maltratou
E que jamais disso, desiste.
Hoje, enquanto tudo em volta silencia,
Dentro do meu coração
Sinto morder duramente a solidão.
Enquanto meu peito chora
Longamente sua fome de amor,
Eu fico solitário com minha dor,
Na paz desta tarde morna de verão!
Santa Luz, 21 de janeiro de 1964.