GRITO DO SOLITÁRIO

Amador Filho.

Todos os sofrimentos da alma

É uma fome insatisfeita,

Uma fome de amor!

Nesta noite todo o meu ser está inativo.

Parei um pouco e fiz uma longa peregrinação

Até o fundo do meu próprio coração.

Caminhei ao longo do meu amor,

Como quem remonta à corrente

De um regato para achar-lhe a nascente.

Eu sofro. VAE SOLI! (Ai do solitário).

Chorar, não... Não chorei,

Porém tive que enxugar

As grandes bagas de suor

Que me orvalhava a fronte

Neste meu sofrido calvário.

Sinto frio no meu psiquismo.

Tenho que sair deste profundo abismo.

Preciso recomeçar novamente...

Talvez já seja tarde demais...

Para viver outro romantismo.

Agora? Amanhã? Decididamente

Fui um brinquedo de gente grande

De coração grosseiro e insolente,

E de princípios criminais.

Corpos coisas, de maldade abrangente.

Morte, personagem grotesca

Fazes-me rir. Aterrorizas o mundo

Enganas o homem iracundo.

Entretanto, só para a vida existes,

Nem és capaz de exterminar

O alguém que me maltratou

E que jamais disso, desiste.

Hoje, enquanto tudo em volta silencia,

Dentro do meu coração

Sinto morder duramente a solidão.

Enquanto meu peito chora

Longamente sua fome de amor,

Eu fico solitário com minha dor,

Na paz desta tarde morna de verão!

Santa Luz, 21 de janeiro de 1964.

Sertanejoretado
Enviado por Sertanejoretado em 28/01/2014
Código do texto: T4668824
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.