Quando a noite se intercala

O que há nesses quintais escuros

Quando a noite se intercala

Quem tomará cuidados

Nessas copas de mangueiras, sapotizeiros

E pitangueiras

Quem estará na solidão do nada

No percurso das estrelas

No miolo da madrugada

Que dizem esses sons estranhos

Como se fossem vozes dissonantes

D’antanho

Que bichos confabulam na eternidade dos quintais

Tantas dores gemem entre folhas

Folhagens

Ramagens

Sofrem lembranças de antigos amores

De beijos roubados em matinês dançantes

Será que os fantasmas se espionam

No mentiroso espelho do luar

E se admiram em seus ricos trajes

Em seus sapatos reluzentes

Será que olham as horas no relógio de pulso

Cravejado de brilhantes

Será que dançam uma valsa

Ao som de um piano

E velejam sobre as ondas do Danúbio

Será que depois do baile de gala

Irão para casa dormir

Amar e dormir

E onde estará essa casa

Onde estarão os amigos, os filhos, os demais

Quanta expectativa perambula nesses quintais

Quanta ilusão passeia nas apagadas retinas

Quanta neblina

Nas retinas que foram inquietas meninas

Eles se perdem no caminho

E o sol que para outros

Em glória e ouro se desfaz

Aqueles não o podem ver

Jamais