Olhando a chuva

Nada como a chuva de Belém para molhar minh'alma,

Os minúsculos pingos do chuvisco espalham-se na rua,

Respingos invadem lojas à margem,

Calçadas molhadas pigmentadas com as folhas amarelas das mangueiras,

Ainda não é tempo de manga,

Mas flores invisíveis e disfarçadas já levantam sua nobreza,

Epífitas grudadas nas mangueiras parecem sorrir com suas folhas molhadas,

Em Belém parece que ninguém liga pra chuva,

Não vejo guardas-chuvas e nenhuma pessoa sob as marquises,

O paraense lava sua alma todo dia,

Fica molhado pra não esquecer do seu chão,

Lá vai passando o homem triste, com o rosto preocupado!

Olha aquele grupo de estudantes conversando alegre!

Uma ambulância com sua sirene anunciando mais um drama,

O ônibus lotado com passageiros sonolentos,

O marreteiro com seus produtos chineses,

Os carros pra lá e pra cá, com anônimos apressados,

Uma linda mulher bocejando, parece sem rumo,

Uma velhinha com exames médicos em mãos, preocupada,

E a chuva, e Belém, e a música nos meus ouvidos,

Suave,

Embalando meu Espírito em pingos que caem do céu,

O dia nublado me dá contentamento, sinto-me bem,

Olhando a chuva,

Vendo-me também, ali parado,

Observando histórias, que são também as minhas,

A chuva cessa, apenas um vento leve, quase uma brisa balança os galhos frágeis das árvores,

Recolho-me em meus pensamentos,

O movimento continua,

Amanhã nesse mesmo horário devo retornar,

E dessa vez quem sabe danço na chuva!