Olhos de mar.
Hoje então te vi, tão alheio que o reconheci. Atravessando copos, e corpos. Lançando fumaça pro alto. Sorrisos longos, e largos. Aquele jeito de que a vida lhe cai bem, e cai. Tão bem te cai meu bem, que não perco a hora. Agora.
Suspiro e te sussurro, apresento-te olhos doces, e profundos. Profundidades oceânicas, rochedos onde também teu mar arrebenta. Tu sorrindo diz da minha desenvoltura. Mentira. Nada te ofereço se não ensaios. E bebemos, e brindamos. Beijamos. Tão ternamente que de repente perco o norte e o guia.
E nesses braços, e embaraços. Olhando-te sem aqueles longos sorrisos, pensei. Pensei que talvez haja nos teus olhos algo como um poço. E que te escondes tão bem que olhando agora nada concluo. E inundo. Transbordo. Invado teu poço. Guerreias desesperadamente. Esbraveja. E te afogo e te emerjo.
E tu, tentando amar-me, desbravas o cais às minhas costas. Apenas para deparar-se com meus olhos-espelho. E te arrebata. Arrasta. Maré e maresia. Até que então pela manhã consciente dos teus segredos, e dos meus enganos. Devolvo-te seco e salvo com teu poço a nos sobreviver.