Cidade mais que verdade que amo e odeio na mesma medida,
Na mesma batida de um coração acelerado e olhos atentos,
Tal como naquela primeira vez que te vi e que te vivi de fato no ato.
Cidade verdade, realidade nua e crua, dona de tudo o que sou
E de tudo o que não sou, pelo que nem sei se sei se sinto ou não sinto ser.
Entrego a ti meus sonhos mais caros, meus pesadelos mais sinceros,
A dor de meus ossos e o meu suor infrutífero de uma luta insana,
Alguma coisa desta tão injusta esperança tão tola e desenganada,
De pensar que ainda podemos ser felizes, eu em ti e tu que me conténs,
Que me manténs cativo por gosto e vontade no teu concreto armado de frieza e fúria,
Erguido de um silêncio sepulcral de onde nasço e renasço dia após dia algum outro.
Obrigado! Talvez eu agradeça de coração, se souber onde o deixei, em qual esquina,
Em qual rua, em qualquer edifício, em que orifício, ou ofício, em qual meretrício.
Obrigado por esta tua tão bela falta de beleza tão concreta que me endurece,
Por fora e por dentro, que me engole e me cospe lá adiante mais duro ainda,
E tão mole de sentimentos por ti que sempre me olhou delicada e impassivelmente,
Que me esperou pacientemente eu me tornar gente em meio a tanta gente,
Eu, assim tão igual e ao mesmo tempo tão diferente, todos e um só, múltiplo e único,
Eu, indivíduo e multidão, eu, tão pequeno em tua imensidão
E tão grande quanto posso ser em tuas coisas pequenas.
Foi de te olhar tanto assim que não sei se te pertenço,
Fora de ti não sei se padeço de alguma falta de apreço por um sentimento estranho
E tão puro que não esqueço: voltar é como estar aqui pela primeira vez e te ver.
És minha porque sou teu, inexplicavelmente.
És minha porque te devoro, insaciavelmente.
És minha porque te odeio tanto quanto te amo,
Eternamente...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 25/01/2014
Reeditado em 06/02/2021
Código do texto: T4664030
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