CERTO RIO FORA DA GEOGRAFIA
Há dentro de mim
um rio sem curso definido.
Fora do contexto,
fora da geografia.
Imensurável
seja esse rio a transgredir
a minha existência,
mil vezes empírica,
mil vezes acadêmica...
Às vezes enfeitada de luzes,
quando não,em plena nostalgia...
II
Insisto em dizer
que há dentro de mim
um rio a percorrer na vertente
dos meus sonhos incontidos
quase que mistificados...
Com toda a naturalidade do mundo,
lá vou eu pelos canais do rio
atirando-me de corpo e alma
no furor das águas turbulentas
ao encontro de cascatas selvagens...
Depois, estático, já no remanso do rio,
como um príncipe medieval...
E já que sou esse príncipe sem trono,
então, o que há de errado em sonhar
com um rio que só eu vejo, que só eu sinto,
que só percorre nos canais secretos
da minha existência humana?...
III
Despertava o meu rio tal qual um menino
correndo cedo entre arvoredos,
num leito de fantasia.
Desperta o meu rio feito homem maduro,
de garganta calejada correndo lento,
cansado por entre pedras, já sem limbo,
vítima dos pecados da poluição.
Despertará o meu rio tal qual uma lenda...
Quem sabe, em um novo vale encantado
com a volta triunfante dos dinossauros.