CERTO RIO FORA DA GEOGRAFIA

Há dentro de mim

um rio sem curso definido.

Fora do contexto,

fora da geografia.

Imensurável

seja esse rio a transgredir

a minha existência,

mil vezes empírica,

mil vezes acadêmica...

Às vezes enfeitada de luzes,

quando não,em plena nostalgia...

II

Insisto em dizer

que há dentro de mim

um rio a percorrer na vertente

dos meus sonhos incontidos

quase que mistificados...

Com toda a naturalidade do mundo,

lá vou eu pelos canais do rio

atirando-me de corpo e alma

no furor das águas turbulentas

ao encontro de cascatas selvagens...

Depois, estático, já no remanso do rio,

como um príncipe medieval...

E já que sou esse príncipe sem trono,

então, o que há de errado em sonhar

com um rio que só eu vejo, que só eu sinto,

que só percorre nos canais secretos

da minha existência humana?...

III

Despertava o meu rio tal qual um menino

correndo cedo entre arvoredos,

num leito de fantasia.

Desperta o meu rio feito homem maduro,

de garganta calejada correndo lento,

cansado por entre pedras, já sem limbo,

vítima dos pecados da poluição.

Despertará o meu rio tal qual uma lenda...

Quem sabe, em um novo vale encantado

com a volta triunfante dos dinossauros.

gilbapoeta
Enviado por gilbapoeta em 24/01/2014
Reeditado em 24/01/2014
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