= ANDORINHA = (do livro poema.) - Parte 6
=ANDORINHA= (do livro-poema ) Parte 6
= XVIII =
ENTRE PARÊNTESES
Lá fora, à noite que o vidro separa
Traz pra Nelsinho a lua concebida.
Um “toque” suave em projeção clara,
Uma saudosa imagem conhecida...
Saudade dos seus amigos queridos:
Do Pituca, Lourenço, Sabiá,
Do esconderijo da “Pedra bonita”
Que guarda do mundo o pranto que há...
Saudade da casa, e também dos “pitos”
Dados por “mãinha” contrariada,
Que me parecem agora tempestades
Alucinantes em um copo d’água!
Saudade de tantas coisas vividas,
Repente lhe aflige a tristeza enorme...
Sendo agora náufrago da distância,
Afoga-se em lágrimas não guardadas.
= XIX =
A EXPULSÃO
Odilon foi embora do internato...
Foi convidado –disseram- a atravessar a porta.
E atravessando tudo, ganhou a rua,
Ganhou à calçada, como se nada houvesse.
Era bem dele esse comportamento,
De nunca olhar atrás para o que deixara,
De negar o rastro, por mais que fosse nítido,
Mesmo que o flagrante se revelasse.
Era assim mesmo, em sua exuberância acuada,
Revolta em riste na tenra idade,
Pedindo ao vento que lhe desse asas
Para ir “buscar” o que lhe foi negado.
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Nelsinho ficou cabisbaixo, tristonho...
Afetou-lhe muito o amigo que perdera.
Os olhos verdes que o mar retivera,
Viraram fontes de água: cachoeira...
= X =
CARTA À “MÃINHA”
Niterói, 04 de dezembro de 1962.
Faz tempo “mãinha”!
Mas, hoje especialmente,
Me “bateu” uma saudade...
Uma saudade tão doída
Que “furou” meu coração!
Não sei se amanhã
Vendo o dia que se abre
A novos acontecimentos,
Viverei novamente
O contentamento
Que me fez chegar aqui!
Por enquanto, “mãinha”, só estou triste...
Triste de não ter jeito!
Difícil de agüentar o desejo
De estar consigo aí.
Bênção!
Do seu filho Nelsinho.
= XI =
DANI
Entre olhares,
A sombra do Odilon parece intacta...
Entre vontades de dizê-las,
Sem mais sentido,
Palavras perdem nexos no espaço...
Letras não traduzem o acontecido.
Tudo falta, nada acontece.
Sabiam eles, com certeza, o que perderam,
No cálculo do muro que poderia
Ter se erguido em sua continuidade,
Se não faltassem os “tijolos” da fantasia!
Entre olhares,
A tristeza acontece...
E é tão “duro” pensar neste vazio,
Nesta perda que estanca que incomoda,
Que encrespa o escuro de arrepios...
E é tão “chato” pensar neste silêncio,
No todo imóvel, sem o vento da mexida
Que tiveram vontade de gritar com toda força,
Até que as luzes do internato acendessem!
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Foi aí que perceberam o acontecido,
Alguma coisa errada por conta do Dani
Que gemia estranhamente em sua cama,
Boca presa, olhos arroxeados...
Um enorme reboliço toma conta do internato:
- É tétano! - É tétano!
Souberam, mais tarde, que tinha sido
Removido para casa de dona Lili
Que ficava do outro lado da praça...
-XII-
CELSO
Celso estava sumido...
Há algum tempo sendo procurado...
- O que estaria fazendo?... - Onde estaria “metido?...”
Perguntava, a todo o momento, dona Edith
(preocupada com o sumiço do menino)
Como se tivesse “cobrando” a outros tantos
Que por ela cruzavam...
Na verdade, embora não diretamente,
Indagava a seu modo, a seu jeito,
Exigindo todas as responsabilidades dos funcionários.
De repente, alguém descobre o Celso
No dormitório dos maiores.
Em um “vão estreito”, entre a parede e o armário,
Completamente desalinhado e alheio ao acontecido,
Como se estivesse saindo
Do “pique - esconde” alegado,
“Mil vezes jurado” e repetido.
Ressurge ele, como se nada houvera,
Com aquele olhar desconfiado,
A “cortinar mazelas”
Que encobrem “ensaios e estripulias”
Que fazem parte, com certeza, do “universo”
De experiências que marcam a vida
De um menino.
(Ronaldo Trigueiros Lima)
( Continua)