Além das bordas
Para Larissa Marques
Não adianta, Joana
em busca de mortalhas de grife
as mulheres infestam sonâmbulas
nos gigantescos cubos de concreto
sorrindo sonsas e histriônicas
moldadas a silicone e botox
manequins biônicas
Algumas lhe acedem velas
sem a lembrança das suas chamas
sem o clamor das suas cinzas
sibilando patéticos terços de plástico
amorteceram o quarto
abandonaram a quinta
não há mais parteiras, putas, guerreiras
Não adianta, Jorge
em busca de ações fúteis
os homens abandonaram o alforje
proliferam zumbis
nos geométricos edifícios de vidro
calculando gráficos e metas
com fatos de falos flácidos
pendentes no peito
presos nos walls
em transe nas streets
Alguns lhe acedem velas
sem a lembrança da sua lança
fazem lances perversos
não há mais desbravadores, boêmios, guerreiros
Subsistem raros que vivem
Nas vilas e vias
Volúpia na veia
Entre um trago e um gole
Cigarros e garrafas
Subversivos
Criam versos
Nas estradas além das bordas
Pintam e esculpem
Sem culpa
Sentidos
Entre o negro e o nada.