Além das bordas
 

Para Larissa Marques


Não adianta, Joana

em busca de mortalhas de grife

as mulheres infestam sonâmbulas

nos gigantescos cubos de concreto

sorrindo sonsas e histriônicas

moldadas a silicone e botox

manequins biônicas

Algumas lhe acedem velas

sem a lembrança das suas chamas

sem o clamor das suas cinzas

sibilando patéticos terços de plástico

amorteceram o quarto

abandonaram a quinta

não há mais parteiras, putas, guerreiras


 

Não adianta, Jorge

em busca de ações fúteis

os homens abandonaram o alforje

proliferam zumbis

nos geométricos edifícios de vidro

calculando gráficos e metas

com fatos de falos flácidos

pendentes no peito

presos nos walls

em transe nas streets

Alguns lhe acedem velas

sem a lembrança da sua lança

fazem lances perversos

não há mais desbravadores, boêmios, guerreiros

 

Subsistem raros que vivem

Nas vilas e vias

Volúpia na veia

Entre um trago e um gole

Cigarros e garrafas

Subversivos

Criam versos

Nas estradas além das bordas

Pintam e esculpem

Sem culpa

Sentidos

Entre o negro e o nada.

Well Coelho
Enviado por Well Coelho em 21/01/2014
Reeditado em 21/01/2014
Código do texto: T4659116
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