Lampejo
Por que andas fuçando meus medos?
me desdobrando em segredos
que nem eu mesmo ouso guardar?
Se há tanto me destituístes
do lugar que tu mesma me puseste
A que te vales o meu riso triste
E a mágoa vazia que tu me destes?
Dizes ser teu riso uma casca
que recobre a dor que deveras sente
se a dor é leve ou te devasta
a mesma dor a mim já não é diferente
Mas fostes tu quem me ceifastes
o sonho brando, amargo e doce
me pusestes, me retirastes
o riso à faca, o amor à foice
Agora sabes como dói amar
e ver meu cheiro solto por aí
que lhe amputa o ar de respirar
sentir a mesma dor que já senti
Mas volta! O sonho transpira
tal qual a nuvem que cavalga o vento
abraça o sol e beija e lua
e transforma tudo em sentimento
a mim tu destes, a mim tirastes
a mim o amor, a mim o lamento...