NA SERRA
Desce tão perto dos olhos a serra que,
depois dela - depois do de lá do traço dela,
do mundo nada nos chega e, no vão dos braços
erguidos da encosta descansamos.
No grito firme do sol afasto a lembrança da noite,
afugento da memória a tristeza fundamental e
rabisco, no relevo alto dessas linhas antigas,
a face de um deus cansado.
Se deito a vastidão da paisagem inclinando o ombro
adivinho uma nascente, salto cachoeira.
A serra é dorso prologado, uma dobra na terra,
a montanha de pedra ergue-se em nódulos acumulados.
As folhas das árvores revestem a nudez da pedra na encosta,
na franja iluminada a manhã é fóssil sonolento.
Desdobrado o testemunho das alturas desse olhar. Desço para o vale, e mergulho.
O mar de ondas verdes continua e
eu sem mistério invento o oceano
que há muito secara.