NA SERRA

Desce tão perto dos olhos a serra que,

depois dela - depois do de lá do traço dela,

do mundo nada nos chega e, no vão dos braços

erguidos da encosta descansamos.

No grito firme do sol afasto a lembrança da noite,

afugento da memória a tristeza fundamental e

rabisco, no relevo alto dessas linhas antigas,

a face de um deus cansado.

Se deito a vastidão da paisagem inclinando o ombro

adivinho uma nascente, salto cachoeira.

A serra é dorso prologado, uma dobra na terra,

a montanha de pedra ergue-se em nódulos acumulados.

As folhas das árvores revestem a nudez da pedra na encosta,

na franja iluminada a manhã é fóssil sonolento.

Desdobrado o testemunho das alturas desse olhar. Desço para o vale, e mergulho.

O mar de ondas verdes continua e

eu sem mistério invento o oceano

que há muito secara.

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 20/01/2014
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