[Eu - o verso de um só: A noite da memória]
As coisas, os seres...
as vivências mais significativas,
a inevitável teia das relações,
as pessoas e os seus mundos...
Tudo isso tem vigência
numa espantosa noite
enrustida em nossa memória.
E às vezes,
num súbito resgate,
lá do fundo dessa alongada noite,
torna a nos ferir um certo tempo-ser.
E então, nos descomprendemos,
nos sentimos estranhos...
Nem estamos, nem somos:
apenas flutuamos na névoa
dessas lembranças...
Sob a ilusão das mesmas estrelas,
outros dias, outras noites virão...
Muito sofrimento, pouca felicidade,
até que, nas irrepetíveis estações da vida,
a memória entre no outono...
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[Desterro, 19 de janeiro de 2014]