Assombração

Vi seu fantasma outra vez

Atravessando em tons de escuridão

As paredes brancas que guardam tantas memórias

Vi seu fantasma outra vez

E me deixaria acreditar que era outro truque

De uma mente insistente

Se não ouvisse sua voz

Sem convite, sussurrando palavras aleatórias

Apenas para lembrar que não me deixará em paz

Querida assombração,

Seu tempo já acabou

E um dia esse contorno oco que você chama de presença

Vai ter que chegar a essa conclusão

Talvez eu continue invocando seu espírito inconscientemente

Mas um dia o Universo vai ter que parar de ajudá-lo

Espero pelo dia em que ele lhe dê um empurrão

Que o jogue na contramão

Que deixe suas memórias apodrecerem no baú das Coisas Esquecidas

Por que você insiste em me relembrar de sua existência

Se a minha nunca lhe foi importante?

Por que você continua tentando descongelar meu coração

Apenas para preenchê-lo com a raiva ardente

Que me faz querer destruir tudo

Mas que um dia aprenderei a canalizar apenas pra você?

Por que esse aperto no peito continua

Mesmo que você seja apenas um fantasma?

Querida assombração,

Volte para o seu mundo

Estou atrás de aventuras, sim

Mas caçadora de fantasmas nunca foi do meu perfil

E as aventuras que quero são muito mais vivas

Que essa palidez que cobre sua pele

Continua me assombrando por desespero?

Sua ânsia por atenção já chegou a esse ponto?

Ou seu senso de humor ficou ainda pior

Quando trocou suas camisas coloridas

Pelos lençóis de um fantasma?

Eu não quero respostas

Elas tendem mesmo a gerar mais perguntas...

Eu não quero nada

Nada além da sua verdadeira ausência

Porque suas travessuras etéreas

Não têm graça nenhuma

E se algum dia o vácuo absoluto irá sugá-lo de qualquer jeito

Precisa mesmo fazer toda essa bagunça antes de partir?

Querida assombração,

Se restou um pingo minúsculo de decência em sua forma sem vida

Recolha seus lençóis

E volte para casa

Deixe minhas paredes brancas em paz