Casulos nos Muros da Selva de Pedra
Metamorfoses kafkianas evoluindo
dentro do tubo de ensaio da vida
e a crisálida tornou-se menina,
menina-borboleta venusiana
de cores ocres em tons marfim
beijando flores pitagóricas
de pétalas portadoras da geometria
que é divina, que é perfeita no caramujo
em sua casca, seu novo mundo;
então o escaravelho partiu,
partiu em dois o coração-rubi
que o velho eremita carregava em seu cetro,
cetro de cedro, cetro de vento;
e o tempo é o maior remédio,
tomo doses em copos de ampulhetas
e das areias surgem novos escorpiões
que volitam a noite em constelações,
mas lá está ela, vestida com sua túnica;
ela traz na mão direita um caduceu,
na mão esquerda traz sete dedos
e seus anéis roubados de Saturno
e cavalga em porcos doirados da Sumatra;
e a poesia que recita chega a ser Homérica
e a poesia que escrevo quase cadavérica
é aquela feita em um casulo
é aquela riscada por detrás do muro;
muro de Berlim, muro do quintal;
muralhas que dividem o bem e o mal;
mas o poeta que é alicerce inerte
cala-se, despudora-se, aflige-se;
e quando chega o fulgurante sol
ele contempla a aurora e adormece na relva,
e adormece na selva perigosa da imaginação.