= ANDORINHA = (Livro-poema em capítulos.) PARTE 1
“ANDORINHA” (Livro em capítulos) PARTE !
(A SAGA DE UM MENINO EM BUSCA DO MAR...)
RONALDO
TRIGUEIROS LIMA
DEDICATÓRIA
Dedico este “trabalho”, ao meu primo
MÁRCIO MEDALHA TRIGUEIROS.
Não só pela pessoa excepcional que ele é,
mas por ter sido, em tempos “distraídos”,o alento primeiro
que me fez descobrir nestes versos, o embalo lírico
que guardei
com todo cuidado, para soltá-los livres no momento
certo.
Em 12 de novembro de 2006
Ronaldo Trigueiros Lima.
DEDICO TAMBÉM
A memória da MINHA TIA EDITH, por ter sido ela
a responsável maior pela pessoa que hoje sou.
Em 12 de novembro de 2006
Ronaldo Trigueiros Lima.
APRESENTAÇÃO
Eu me perturbo, fico confuso, e ao mesmo tempo alegre ao rever esses papéis amarelados que já considerava igual a tantos outros, completamente perdidos. Fiquei fascinado ao reencontrá-los, apesar de quase inelegíveis pela erosão da vida. Dessa maneira, tive que contar com o esforço da memória e o desejo enorme de terminar este projeto iniciado por volta dos anos sessenta, em nome de uma “arte” poética que acredito me ter adotado. Munido dessa vontade, mergulhei no subterrâneo das lembranças numa procurada sem fim. Agora, passado mais de um ano, penso ter conseguido reavivar aquelas cores suaves que coloriram a saga de um menino (do final dos anos cinqüenta), de aproximadamente dez anos, que vindo de “Serrinha” cidade do recôncavo baiano para estudar em um “grande centro”, realizou seu sonho de conhecer o mar.
Assim, quase de repente, num dia qualquer de inverno, fugindo dos meus pesares, relutante, temeroso e ao mesmo tempo curioso, fechei-me à realidade para abrir o baú empoeirado de lembranças resignadas, que no tempo do “eu atoa” foram motivos do meu içar de velas.
Ronaldo Trigueiros Lima.
Mas, como diz o poeta gigante:
“Mesmo que meus versos nunca sejam impressos,
eles lá terão a sua beleza, se forem belos.”
(Fernando Pessoa).
= I =
Chiado de vento
(Prólogo)
Chiado de vento
Menino tão só...
Mãos pequeninas
Tristeza maior...
Monte colina,
Riacho do peixe,
Planície alongada,
Pedaço de céu...
Lá vem o trem
- Com cheiro de mar -
Fumando cachimbo
De coleira com sino.
Parece brinquedo,
Brinquedo “granfino”
De filho de inglês.
Lá vem o trem
Rangendo na curva
A soprar fumaça,
A chamar pessoas
Que querem lhe ver...
Sentir seu cheiro,
Ouvir seu apito,
Se sentir dentro dele,
Engolido por ele
Para poder “viver”...
Lá vem o trem
Que já vem... Que já vem...
Levando pessoas,
Trazendo também
Em seu vai-e-vem.
Um ponto, um conto:
Saudades também!
23. 10. 1962
Ronaldo Trigueiros Lima
=II=
A despedida
O menino veio para o Rio.
Veio para Niterói,
Ver como era o mar,
Se ele existia mesmo...
Veio saber das verdades,
Narrativas espantosas
Que “varam noites”
De tirar o sono...
Veio conferir o espanto
Da boca dos viajantes
Que chegam falantes
A “Serrinha”,
Cidade incrustada
No recôncavo baiano.
“Nelsinho” aperta os lábios,
Prende o engasgo,
Franze a testa,
Olha a mãe,
Cede o abraço,
Contém o choro,
Disfarça a lágrima,
Entra no “jipe”
Sem dizer nada,
Olha para o céu
Ainda escuro
Sobre a planície larga
E pensa no mar,
Que não conhecia...
(Ronaldo Trigueiros Lima)
(Continua)