Ponto.
Todo pouco gesto era poesia,
E todo começo era um meio-fim.
Era uma vez o ponto.
Sempre encerrava tudo.
Tinha inveja do parágrafo,
por sempre mudar de assunto.
Da vírgula, nem se fala;
sempre separa, enumera, restringe,
explica e muda o sentido de tudo.
Do travessão porque tinha voz.
Dos dois pontos por roubar atenção.
Dos acentos pelos deleites da entonação.
Mal sabia ele, porém, coitado,
Que tinha o privilégio de encerrar
Todos os assuntos,
Até os inacabados.
E por mais que simples seja a função
Do fim,
Nele cabe toda a imensidade de uma
Ansiedade infantil.
Tem mais, ou não?
O ponto é a clareza, é o fim certo.
Mas, se da incerteza, viesse outro
Sujeito e roubasse a cena?