PASSARINHO BEIJA-FLOR
(Sócrates Di Lima)
Na paisagem do teu corpo, repousa meu olhar,
E nos teus olhos, descanso meu sorriso,
E te olho incessantemente,
Como quem olha pelas veredas do mar,
Eu, teu pássaro de sobreaviso,
Sob o olhar do Sol incandescente.
Na penumbra das minhas noites quentes,
Minh’alma se faz fria,
E por todos os poentes,
Minha vontade queima ao Sol do meio dia.
E aquele olhar indiferente,
Perdido no vazio da imensidão,
Descansa entre os ventos do continente,
e pousa os beija-flores nos jardins do meu coração.
Então vem a noite em vento brando,
Remete-me ao espaço do meu próprio Eu...
E ali, remeto-me às saudades de ti lembrando.
Como se dentro de mim, quisesse tê-las,
Meu olhar se perde sem lacrimejar,
Como se querendo ao longe enxergar,
O olhar de ti entre as estrelas.
Foge-me então o senso do bem querer,
Mas trago no caminhar uma estrada vazia,
Sem horizontes aonde eu possa absolver,
As vozes roucas da poesia.
Já não canto mais para fazer ninar a saudade,
No pesadelo trazido em seus reversos,
Que sem melodia se perdem na ansiedade,
De não mais pensar no que restou dos meus versos.
Talvez em algum lugar lembre-te de mim,
mas nem te importes,
Porque mesmo longe de ti não fiz meu fim,
ainda, tenho do amor, meus passaportes.
E assim, ao longe,
Sentado às margens das minhas vontades,
Em transe, como se um monge,
Liberto minh’alma das mais loucas saudades.
Miro-te o corpo sobre o ninho,
Aonde tantas vezes morri de amor...
aos gritos de tantos carinhos,
Sugava o néctar de teu amor, o Eu beija-flor.
Então, liberto-me das minhas amarras,
Trazidas presas em correntes pelo caminho,
Mas nunca me solto das tuas garras,
Porque eternamente fui e serei,
Como assim, bem sei....
teu mais afoito passarinho.