A minha viola
Minha viola querida
Companheira enternecida
Deusa do meu coração
Contigo cantei saudade
Tua foste na mocidade
Mnha primeira ilusão
Minha nobre companheira
Foste eterna conselheira
Deste pobre cantador
Tu me deste inspiração
Para eu cantar o sertão
Do caboclo agricultor
Tu me levaste bem longe
Pensativo como um monge
Cantava a vida banal
Como vate talentoso
O destino tenebroso
Me fez triste comensal
Como triste cantador
Consolaste a minha dor
A minha tosca agonia
Nas tuas notas suaves
Cntara o canto das aves
E a rude selvageria
Tu foste minha caneta
Minha primeira faceta
Foi sempre cantar repente
Encantado com teu som
Eu praticara meu dom
Nesse nordeste carente
Nas tuas notas singelas
Cantei toadas tão belas
Do palco todo tremer
Com versos mirabolantes
Conquistei muitas amantes
Pra nunca mais esquecer
Mesmo podendo cantar
Não quero mais te enfrentar
Nem quebrar esse tabu
Vou seguindo nova estrada
Enquanto dormes calada
No fundo do meu baú.
Tinta anos viajei
Contigo também cantei
A nossa vida vulgar
Como deusa em meu proscenio
Tu representas meu gênio
De cantador popular
Depois de tanta loucura
Não vou quebrar minha jura
Não volto mais ao repente
Minha viola calaste
A vida como um contraste
Me fez ser teu oponente
Eu lavarei para a cova
A fama da minha trova
O teu baião requintado
O tempo como um dragão
Fez nossa separação
Deixando tudo acabado
Eu tomei novo destino
De cantador peregrino
A pequeno literato
Minha viola querida
Os dramas da minha vida
Descrevi neste relato.