Janeiro

As manhãs e as tardes eram azuis

E o coração do homem se acalmava

Pois os desejos tinham

Travesseiros de nuvens

Porém o cinza rendeu o azul

O coração do homem

Abraçou a melancolia

A vida é um rio camaleão

A transportar cadáveres:

Sonhos, deuses, homens, máquinas

Morando na solidão

O homem escreve

Mas é inútil

A poesia é um mar

Encontro de vários rios

Águas nada fáceis de navegar

Inapropriadas para o deleite turístico

O homem, funcionário público

Parco salário

Esquecidos sonhos

Profundas frustrações

Tenta se encontrar

Nos mares da poesia

Mas as marés não são piedosas

Na vida e na poesia

As respostas são proferidas

Em desconhecidos idiomas

Solitário em sua casa

Indiferente à chuva que cai

Todo entregue

À peleja com as palavras

O homem digita.