O FUNERAL DO ÚLTIMO POETA

Luciana Carrero*

Chegaram uns doidos com caras de loucos

Bradando fabulosas e estranhas fábulas

E disseram dizendo a dizer bem sérios

Que eram os principais de estranhos mistérios

E que até poderiam servir de rábulas

E defendiam a defesa dos poucos

Dos apoucados que repousam nos fados

Sem amor, desamados, sem voz nem vez

De suas partes, minorias menores

Que passavam pelos males bem piores

E se arrastavam sem nenhuma altivez

Na franca morte sepultos, soterrados

Quem sois, ó esquálidos montes de ossos

pretensos títeres a advocar

Pela miséria a que nem foram chamados?

- Somos defesas, ao teu fim escalados

Que partais como vivos a fabular!

(Já enforcavam o penúltimo dos nossos)

Finado o poeta deixou a rima, um dia

Partiu pendurado na corda de um verso

E a canalha política andava, insana

Na corrupta ceifa da raça humana

Desespero desesperado legítimo

Do planeta sem explodir que explodia

- Ridículos vós, ex-poetas desmembrados

Morrentes na fábula de sonho do nada

Cá no beiral do catre da minha morte

Odeando** na mesma iludida má sorte

Que os viu partirem desta arte expatriada

E volvem, caras de assombros assombrados

O escuro escureceu por dentro e por fora

E num repentino breu já se envolveu

Descarnou-se o último. Ossos brilharam

Estridentes poetas mortos dançaram

Estranho carnaval que da ossada evolveu

No grande soneto da última hora!

** Odeando – cantando odes

* Produtora Cultural, reg. 3523/LIC/SEC/RS