sobre torpor e sombras

O medo do nada me provoca. Os dias passam lentamente, o sol grita lá do céu injúrias pra todos os gostos e, se vem a chuva, quando vem, o asfalto fica puto, soltando fumaça pra todo lado. Os dias seguem assim. Tacanhos, ardidos, silenciosos. São dias em que olhar para o ventilador pode se tornar uma tarefa de contemplação. Os gatos deitam preguiçosos, se estiram no chão, encostam na parede, reclamam se desligamos o ventilador, fazem tudo por um pedacinho de frescor. Esse tempo de lentidão veio pra castigar e, mesmo tão lento, não consigo vê-lo passar. Quando reflito já é outro dia, se acordo de um sonho já estou perdida em outra semana, preciso de um eletrônico qualquer pra me situar.

E assim seguem as horas nos tempos de torpor: uma sombra e um pensamento tornam-se mais afáveis do que qualquer carinho de gente, mesmo no escuro. Portanto, que venha o vento e que ele faça as pazes com as nuvens. Que ele leve embora o tormento das horas desperdiçadas e a brancura monótona do peito franzido.