Meu lar ancestre
Triste não é o gueto
Mas alguns que nascem no gueto
Alguns que morrem no gueto
Os que financiam a pobreza do gueto
Quem enriquecem com o gueto
O operário com medo
a mãe que perde o filho mais cedo
as madrugadas nos becos
Aqueles corpos descendo
Outra notícia de enterro
E todo esse desapego
A vida do desemprego
é luz cortada
É conta vencendo
o meu eu vencido
pensando o motivo
Por que não venço
O que mais penso
Será propenso
Pegar um pincel
e pintar de sangue
as ladeiras
O lar ancestre
a casa branca
os escravos
os restos de comida
o final da feira
e o gueto ali
sempre à beira
até a beira mar...
A prece da vovó
Valei-me meu pai Oxalá
Aqui ou lá
Onde eu cair
No gueto que seja
Meu sangue tão rubro
Uma calda de cereja
No chão batido
Da gente pisada
donos das pegadas
espalhadas
No gueto
Desde o tempos
Dos meus velhos pretos
Nesse grisalho vento...