Meu lar ancestre

Triste não é o gueto

Mas alguns que nascem no gueto

Alguns que morrem no gueto

Os que financiam a pobreza do gueto

Quem enriquecem com o gueto

O operário com medo

a mãe que perde o filho mais cedo

as madrugadas nos becos

Aqueles corpos descendo

Outra notícia de enterro

E todo esse desapego

A vida do desemprego

é luz cortada

É conta vencendo

o meu eu vencido

pensando o motivo

Por que não venço

O que mais penso

Será propenso

Pegar um pincel

e pintar de sangue

as ladeiras

O lar ancestre

a casa branca

os escravos

os restos de comida

o final da feira

e o gueto ali

sempre à beira

até a beira mar...

A prece da vovó

Valei-me meu pai Oxalá

Aqui ou lá

Onde eu cair

No gueto que seja

Meu sangue tão rubro

Uma calda de cereja

No chão batido

Da gente pisada

donos das pegadas

espalhadas

No gueto

Desde o tempos

Dos meus velhos pretos

Nesse grisalho vento...

Lopes Neto
Enviado por Lopes Neto em 09/01/2014
Reeditado em 10/01/2014
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