ANJO MORTAL

Alado de negras asas numa nudez tão alva

anjo do bosque vaga e mortal de amores é tomado

Vede-o estarrecido rezar a prece

mas não cai de amores o ser celeste

- Vinhas tu, tão solitária e magra

de olhos belicosos e chorosos

Chamava-se com os olhos,sei disso

Dei-lhe meu sorriso mas tu nada fizeste

Estende-lhe a mão ,mas tu não há quis

Ofereci-lhe um abraço ,mas somente o vento abracei

Se queres minha alma, morra tu !

Vira-se o anjo sem amor ter

A face de ira é rosada,

Despreza-o mas a manda morrer?

-Quer possuí-me mas não morre de amores

Sacrilégio maior é privar o mortal das dores

O possuirei com a morte que negas

Liberdade terei desse mar de névoas

Vira-se o mortal magoado

Do amor lhe veio a dor

Como mentira fosse

o anjo que o libertou

-Abutre!

Amo mais a mim do que um anjo nu,

Amo mais a vida que a morte pelos seus lábios

A sanidade à loucura de beijar-lhe os pés

Se não queres o que lhe ofereço,

Se do amor dos tolos vive,

Não ei de morrer por ti!

Foi-se o belo do anjo

Insurge-se a bela besta

-Cansei-me de ti, pífio mortal

A espera de complacência estava?

Deve a terra retorná sem nada a ganhar

Lavar sua alma no mar e do desejo se libertar

Sua vida levar e a alma ganhar

-Ei de morrer?

Amor vil...

Amo-me mais que a ti

Correrei para a alma perdurar

e da vida desfrutar

Acorda o bosque sonolento

No rufar das folhas pisadas

O mortal corria como vento

Mas é mortal não vento

-Bu!

-Ah!

Anjo não me parece

Enganei-me ao ponto da morte?

Vá para longe!

-Não tema a morte que é bela

Por beijo meu o farei definhar

Vossa respiração encurtará

pelo veneno que foi amar

Inclina-se o anjo para o beijo dar

Sem voz o mortal se cala a esperar

-Não vá me amar

Seu corpo sobre mim já pulsa

Mas e vosso coração,

Es pedra sem emoção?

-O que estás a dizer?

Último artificio desse ser

Em vão, já sinto-o morrer

-Turvo meus olhos estão

Minha musa, sua silhueta desaparece

Estás a vir comigo?

Dê-me vossa mão

Não vagar sozinho,

foi o porquê de minha ilusão.

-Entrego-te mais um

Minha alma o quão liberta está?

Que não tarde o próximo

sua alma desperdiçar