A poesia que podes me trazer
Se quiseres ler-me um poema
Não traga nas mãos o papel
Traga somente tua voz
Esqueça o tradicional lema
Converta-te no mágico pincel
Com o qual vamos pintar as histórias de hoje
Basta-te olhar para os pardais
E desenhar seu voo na minha utopia
Pensar nas flores e suas variadas cores
Que já não inspiram aos atuais casais
Cheios de afazeres no lugar da alegria
Que ao fim acabo não passam de dores
Basta-te viajar para o mar
Voltar com as conchas já sem beleza
Para, mesmo assim, adornarmos nossa pintura
Esse retrato de que já ninguém sabe amar
De que em cada família sobra tristeza
Que aos poucos vira nossa cultura
Basta-te ir pra calçada dos pedintes
E envés de esmola, lhes facultar um tempo de escuta
Para gravarmos que ninguém brotou exatamente coitado
Mas que o mundo fez dos homens puros concorrentes
Mesmo sem saberem a exata razão da luta
Porque em arcaicas ocasiões vivemos lado a lado
Basta-te um pouquinho de lucidez
Para divisar que essas poesias de agora
São o refúgio das mentes que ainda sabem se entristecer
Com as mil coisas que demoram alcançar a sua vez
Porque os pseudo-deuses da terra mataram a hora
Em que a escuridão decidiria nos ofertar um amanhecer
Acima de tudo, basta-te o silêncio
Para pincelarmos essas cancões divorciadas do brado
Esses passos do terror que nega dormir
E ensina nossas crianças um novo vício
O vício da indiferença por quem devia ser amado
Porque nessa poesia, ir-te-ei ouvir.
Sabe porque estou assim amigo?
Porque a metáfora esta amenizando a escuridão.
E eu quero ver o meu mundo como ele é
Cheio de telas ilustrando o perigo
Que é chegarmos a uma estrema solidão
Onde nem o futuro olhará para si mesmo com fé.