A poesia que podes me trazer

Se quiseres ler-me um poema

Não traga nas mãos o papel

Traga somente tua voz

Esqueça o tradicional lema

Converta-te no mágico pincel

Com o qual vamos pintar as histórias de hoje

Basta-te olhar para os pardais

E desenhar seu voo na minha utopia

Pensar nas flores e suas variadas cores

Que já não inspiram aos atuais casais

Cheios de afazeres no lugar da alegria

Que ao fim acabo não passam de dores

Basta-te viajar para o mar

Voltar com as conchas já sem beleza

Para, mesmo assim, adornarmos nossa pintura

Esse retrato de que já ninguém sabe amar

De que em cada família sobra tristeza

Que aos poucos vira nossa cultura

Basta-te ir pra calçada dos pedintes

E envés de esmola, lhes facultar um tempo de escuta

Para gravarmos que ninguém brotou exatamente coitado

Mas que o mundo fez dos homens puros concorrentes

Mesmo sem saberem a exata razão da luta

Porque em arcaicas ocasiões vivemos lado a lado

Basta-te um pouquinho de lucidez

Para divisar que essas poesias de agora

São o refúgio das mentes que ainda sabem se entristecer

Com as mil coisas que demoram alcançar a sua vez

Porque os pseudo-deuses da terra mataram a hora

Em que a escuridão decidiria nos ofertar um amanhecer

Acima de tudo, basta-te o silêncio

Para pincelarmos essas cancões divorciadas do brado

Esses passos do terror que nega dormir

E ensina nossas crianças um novo vício

O vício da indiferença por quem devia ser amado

Porque nessa poesia, ir-te-ei ouvir.

Sabe porque estou assim amigo?

Porque a metáfora esta amenizando a escuridão.

E eu quero ver o meu mundo como ele é

Cheio de telas ilustrando o perigo

Que é chegarmos a uma estrema solidão

Onde nem o futuro olhará para si mesmo com fé.

Odibar João Lampeão
Enviado por Odibar João Lampeão em 09/01/2014
Reeditado em 09/01/2014
Código do texto: T4642419
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