Fotografia de © Ana Ferreira



ESTRANHOS
 
A felicidade é um lugar estranho.
Sofremos com a presença e com a ausência.
Somos atormentados com a falta e com a fartura.

Não toleramos o silêncio nem a ausência dele.
Lamentamos a guerra, cansamo-nos da paz.
Queixamo-nos do quanto a solidão
nos provoca medo,
mas quando
encontramos o amor

deixamos que ele
nos fuja, como
areia que
escorre
entre os
dedos.

 
Somos
criaturas
estranhas.

Escutamos apenas
a nossa própria voz, tão alta,

que ensurdece tudo ao nosso redor.
Por isso nos refugiamos naquilo que nos falta,
na pseudo-segurança daquilo que não temos
e julgamos possuir.  E o horizonte passa
a ser, também, um lugar estranho.

Deixa de ser um espaço aberto,
ao  alcance  dos  olhos.
Distanciamo-nos e
distanciamo-lo,

deixa de estar
ali  tão
perto...

 
E
nos
camuflamos
de uma frágil e
também estranha força

que faz da vida um encontro
e  desencontro  de sentimentos

que nos torna seres cada vez mais
estranhos,
cada vez mais longe de nós, 
apenas  felizes  enquanto  não somos felizes,

iludidos  pelas  coloridas  luzes da ribalta,
que nos fazem tão eternamente breves,
tão incrivelmente tênues,
tão imensamente
  sós…


Ana Flor do Lácio
Ana Flor do Lácio
Enviado por Ana Flor do Lácio em 08/01/2014
Código do texto: T4641436
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