Fotografia de © Ana Ferreira
ESTRANHOS
A felicidade é um lugar estranho.
Sofremos com a presença e com a ausência.
Somos atormentados com a falta e com a fartura.
Não toleramos o silêncio nem a ausência dele.
Lamentamos a guerra, cansamo-nos da paz.
Queixamo-nos do quanto a solidão
nos provoca medo, mas quando
encontramos o amor
deixamos que ele
nos fuja, como
areia que
escorre
entre os
dedos.
Somos
criaturas
estranhas.
Escutamos apenas
a nossa própria voz, tão alta,
que ensurdece tudo ao nosso redor.
Por isso nos refugiamos naquilo que nos falta,
na pseudo-segurança daquilo que não temos
e julgamos possuir. E o horizonte passa
a ser, também, um lugar estranho.
Deixa de ser um espaço aberto,
ao alcance dos olhos.
Distanciamo-nos e
distanciamo-lo,
deixa de estar
ali tão
perto...
E
nos
camuflamos
de uma frágil e
também estranha força
que faz da vida um encontro
e desencontro de sentimentos
que nos torna seres cada vez mais
estranhos, cada vez mais longe de nós,
apenas felizes enquanto não somos felizes,
iludidos pelas coloridas luzes da ribalta,
que nos fazem tão eternamente breves,
tão incrivelmente tênues,
tão imensamente
sós…
Ana Flor do Lácio