A CHUVA E O SONHO

Oh, que inverno tão chuvoso,

A chuva cai fustigando os telhados,

E as pedras espelham o desgaste do tempo.

Os gatos miam,

E procuram comida nos caixotes do lixo,

Embora molhados...

Eles insistem,

Já que estão esfomeados.

Sinto na natureza um grito de urgência,

Parece que tudo está a pedir socorro,

As folhas das árvores caem lentamente,

O perigo espreita a cada esquina

Numa sensação de luta vertiginosa contra o tempo.

O céu está carregado de nuvens negras,

Que parecem um inferno,

Onde a morte habita eternamente.

Os campos verdejantes estão cheios de poças de água,

E os pássaros estão mudos e atentos.

Os nascentes secos rebentam de novo,

Até parece que ganham vida novamente,

Num renascer constante depois do verão escaldante.

As barragens começam a encher,

E os peixes escondem-se no fundo das águas turvas,

Parece que sentem receio da mudança de tempo...

Os lobos uivam ao longe nas montanhas

E as flores murcham

E sucumbem naturalmente.

Já eu fico a pensar em tudo isto que se está a passar,

Apercebo-me que é o decurso natural da vida,

E nada mais normal que assim aconteça.

Nada está em silêncio,

Os sapos caminham pelas ruas

E as saramelas também,

São as formas de vida que

Despertam em plena chuva a cair constantemente.

Já nas estradas os camiões circulam em pleno comércio,

Libertando gases tóxicos para atmosfera,

E eu assisto a tudo impávido e sereno.

Certas coisas poderiam ser diferentes,

Mas por que penso que poderiam

Ser diferentes se são mesmo assim?

Talvez seja a minha vontade a querer mudar as coisas,

Enfim, mas tudo é perfeito...

Por que desejo mudar o que é perfeito?

Ah, é este meu feitio sempre inconformado

Das coisas serem como são,

E não como eu gostaria que fossem,

Sou de um pensamento revolucionário,

Controverso demais para aceitar as coisas como elas são.

E a chuva continua a cair,

E eu continuo aqui a pensar

Em mudar o mundo e o rumo das coisas,

Enfim, como se isso fosse possível na realidade.

Resta-me sonhar e inventar o meu mundo perfeito,

Que é tão diferente e irreal deste que vivo na terra...

Ah, se eu pudesse, ah, se eu pudesse, ah, se eu pudesse...

O meu sonho seria real.

Ângelo Augusto

Ângelo Augusto
Enviado por Ângelo Augusto em 06/01/2014
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