CONTA-GOTAS
Desfiamos
as nossas ladainhas.
Acreditamos que estamos
salvando o Ártico.
Acreditamos em horário nobre,
que socos e pontapés podem.
Que mostrar os peitos
e as bundas não.
E na continuação,
do próximo capítulo...
Fazemos do Plim Plim
um campeão de audiência.
Da cantora Annita
uma nova pop star.
Do lutador Anderson
um novo “deus”.
Do funk
o novo som da laje.
Dos energéticos
uma nova vitamina.
Diariamente estamos
engolindo sapinhos
com conta-gotas.
Ficando mais “Humanos”
com sangue nos olhos,
com a língua louca pelo sabor
de uma gotinha.
Mesmo que, ás vezes,
nossas bocas estejam amordaçadas
pelas gravatas coloridas e caras de Brasília.
Cordeirinhos em fila
com o título de eleitor na mão.
Contando os dias nos dedos
para mergulhar no ufanismo
verde e amarelo.
E depois continuar
de castigo,
ajoelhados no milho.
Acreditando que,
de repente,
engolir sapinhos
seja até normal.
Hoje eu estou
arrotando os meus,
bebendo a efervescência
de um Sonrisal.