Tereza da Noite

Desceu a Rua Eliza

Pés descalços

Percatas quebradas

Nas mãos

Década de oitenta

Fim de feira

Resto do dia misturado

Com as sobras de verduras

Na vitrola do bar da

Esquina, Cyndi Lauper

Cantarola uma canção dançante

Sua maquiagem derretia

No suor do orvalho da

Noite

Foi andando pela calçada

Até chegar no Timbi

Onde trabalharia

No Cabeçudo

A noite não estava boa

Três sujeitos mal encarados

Faziam uma festa

Na mesa vinte e dois

Engraçou-se de um deles

Bebeu, comeu, deu a confiança

E um beijo de boca

Saiu com ele

Para trás de um galpão

Sexo, neuroses e devaneios

Não quis fazer de tudo

Ele não suportaria outra rejeição

Esganou-a

Nua, com o púbis ao relento

De pelos crespos em flor

O negrume da noite

Se confundia com o brilho de sua pele

Que foi lentamente esfriando

Até virar pedra

Não saiu nos principais jornais

Nem em nomes de ruas

Era puta demais.