Nenhuma noite me esconderá
Nenhuma noite me esconderá
O fundo do sofrimento.
Quase nada é tão escuro
Quanto à noite
Que tenta por bordados
Na noite e ela me entrega quase tudo
À noite me demonstra como
Somos pequenos
Ao fabricarmos
Continentes
Cingidos pela noite:
Mas nós sabemos mais.
Mesmo assim, deus
Age e anda
Escrevendo discursos progressistas
Sobre a vitalidade da própria voz.
São tantas
As mentiras que inventamos
Sobre seu respeito.
Nem todo grito de dor
Se transformará em música:
O infinito não pode ser tratado somente por
Pessoas que fedem
E talvez
O infinito não passe de um fedor
Que, contudo
Passa.
Nossas mãos vão ao céu
Envergonhadas por
Terem de assinar
Tanto papel,
Mas a noite
Que cada um tem guardado
Salvará cada pessoa e palavra
E
Gesto.