O Espólio do Silêncio
Dos meus olhos escorreram
duas surpresas ardentes e magoadas,
quando teus gritantes silêncios emudeceram
o canto das minhas quimeras anunciadas...
Em vão, tua mudez tentará apagar os rastos
não executados do que deveria ser,
nem teu medo de amar fechará teus olhos gastos
de tanto me procurar, mas sem me ver.
Não dirá o teu silêncio - tua amargura o proíbe -
que essa saudade nua que te acompanha
não quer vestir-se, e mais se exibe,
de nudez exposta à nossa luz estranha.
No fim, teus calados medos vão,
tanto as esperanças que eu vivia a cantar,
se tornar herdeiros dessa vultosa solidão
que a morte do nosso sonho vai nos legar.
Antonio Maria Santiago Cabral