AS AVENTURAS DO ZÉ (ÚLTIMO EPISÓDIO) - A MORTE DO ZÉ
Terça-feira, trinta e um
E o ano a acabar
Vamos lá pois festejar
Mesmo c`uma lata de atum!
Muito não se pode comer
Que está tudo a ficar caro
E se eu a ti não me amparo
Dá-me uma doença a valer!
Oh! Homem, tu está calado
Porque pra mim me convém
E vê se no ano que vem
Ficas bem mais atinado!
Vamos lá mas é prá rua
Ver foguetes a estoirar
Que isto é pra rebentar
A festa é minha e é tua!
O puto já abalou
Foi ter com os seus amigos
A favor de tais castigos
Menos dinheiro se gastou!
Zé tu faz-me um favor
Vai além buscar champanhe
E que Deus te acompanhe
Desculpando este estupor!
Mas que conversa é essa
Nunca foste religiosa
E agora está tão mimosa
Embora com toda a pressa!
É que ando baralhada
Tenho o juízo estragado
Por tanto te ter aturado
Que vais levar uma paulada!
Ai Maria, credo, credo
Não faças o disparate
Se queres que eu mesmo me mate
Faço-o sem ter qualquer medo!
É mesmo o dia ideal
Que nem o moço cá está
Esquece isso e toma lá
Esta bebida afinal!
Pois bebe lá tu primeiro
Que lhe poste aí qualquer coisa
Armaste tão bem a loisa
Pra te livrares, deste carneiro!
Pensas que fiz algum esquema
Não fiz nada com certeza
E podes ter a certeza
Bebo sem qualquer problema!
E a Maria assim fez
Bebeu tudo de um só gole
Que ele também encheu o fole
Quando foi a sua vez!
Só que o Zé, que é de mente descuidada
Já meio tonto lá rodou
Nem viu que os copos, trocou
Sua Maria assanhada!
Deus três ais e assim tombava
Caindo redondo ao chão
Ì nda levou um encontrão
Pra ver se já morto estava!
Nada havia a fazer
Sem poder ressuscitar
Amanhã vai a enterrar
E outra vida, irei viver!
Vou pró lado do doutor
Se ele meu filho quiser
Ele já está sem mulher
Bem me pode dar seu amor!
E agora vou aparentar
Que lhe deu uma congestão
E antes de o por num caixão
Vou os vizinhos alertar!
Paciência neste dia
Mas logo hoje foi morrer
Desculpem vi-lo dizer
E vos estragar a alegria!
Deixe lá oh vizinhança
Estamos cá pró que for preciso
Deus o tenha em paraíso
Mas deixa-nos desconfiança!
Que querem vocês expressar
Cuidado com a pretensão
Depressa os ponho na prisão
Metam-se já daqui a andar!
Não precisa estar nervosa
Mas há uma testemunha
Que viu que no cálice lhe punha
Veneno com toda a prosa!
O mestre tio do Bigode
Espreitava pela janela
Quando viu acena aquela
E escutou: “Ai quem me acode”
Por isso não minta mais
E pra findar esta quadra
Já foi alguém para a esquadra
Pra virem os policiais!
E quem mata por loucura
Nunca terá o perdão
Que apodreça na prisão
Sem comida e na secura!
Coitado do Zé do gado
Sem fazer mal a ninguém
Este triste final tem
Ao morrer assim drogado!
Não pensem pois fazer mal
E tenham bom coração
Afastem sua razão
De uma ideia a esta igual!
E sem fazer de juiz
Esta história termina
Mesmo sendo bizantina
Teve um momento feliz!
Quem saiba, qualquer um dia
Possa continuar até
É certo, já sem o Zé
As aventuras da Maria!