poema calado
se queres saber do grito
que não se espalhou
nas planícies
que te cabem
ele pegou a cor dos meus olhos
e foi se perder
em outras paisagens
ele foi por dentro
e por fora
do que escorre
do que molha
saltou de sacadas
de vasos quebrados
prendeu-se em
altos galhos
bebeu de cada
broto
o orvalho
emulando
com beija-flor
um pairo
e no sobressalto
mudo das asas
burilou o ar
até cansar
partiu pelas cores
e dores
de cárceres
de fazendas
de cercas finas
até prender-se
nestas linhas
ululando olhos
arrecadando ganhos
pra quem tudo perdeu
se queres saber do grito
ele (ainda) não emudeceu
anda vagando por aí
gelatinando o brilho
dos olhos meus