AS AVENTURAS DO ZÉ!
Zé Pastor com o frio que estava
Foi pastar suas ovelhas
Meteu o boné nas orelhas
Enquanto já caminhava!
E o cãozito lá ladrava
Béu béu béu béu béu béu
Também queria um chapéu
Mas o dono não lho dava!
Veio o carneiro e marrou
Nas pernas do Zé coitado
Que ao chão foi atirado
E ninguém o ajudou!
Triste sina era a sua
Guardada prá aquele dia
Que nem a velha da Maria
Apareceu no meio da rua!
Ali ferido e a tremer
Gemendo e dando ais
Bem de entre os animais
E começara a chover!
Sem esperança e sem ter fé
Ali prostrado no chão
Desaparecera até o cão
O que era feito do zé?
Já raios no céu havia
E os trovões iam soando
Pobre do Zé, que chorando
Bradava pela Maria!
E as ovelhas encharcadas
Da água diluvial
Tinham ido pró curral
Mesmo pl`o Zé, abandonadas!
Pareceu ouvir ladrar
E a cabeça levantou
Foi a mulher que chegou
Tinha-a ido o cão buscar!
Ai homem que está tão mal
Disse ela toda em ânsia
Chamo já uma ambulância
E vais para o hospital!
Deixa-te disso, mulher
Tudo isto vai passar
Só me quero a ti amparar
Vai ser o que Deus quiser!
Grande susto, meu marido
Que tu hoje me pregaste
Teimoso, nunca negaste
E andas sempre convencido!
Eu bem que te dizia
Que o tempo ia mudar
Mas jamais queres escutar
O que te diz tua Maria!
Olha! Vê lá mas é se te calas
Antes que arranjes briga
Dá-me algo prá barriga
E acaba lá com as falas!
Tudo isto é pra esquecer
Daqui a pouco estou de pé
E com mais força este Zé
Te poderá dar prazer!
Não venhas com esse furor
Já não vais tendo idade
Já perdeste a mocidade
E é menor, todo o vigor!
É o que tu dizes Maria
Estou pronto prá aventura
Faço-te mais uma criatura
Para nos dar alegria!
Nem penses homem danado
A coisa está preta e torta
E com a miséria à porta
Tal não era o nosso fado!
Vai lá mas é descansar
E curar essa ferida
Pra depois, tratares da vida
Porque ela custa a ganhar!
OH! Maria, tens razão
Já estou cansado e velho
Vou seguir o teu conselho
Dá-me lá o teu perdão!
Está bem, fica descansado
Mesmo teimoso, te adoro
Porque se me faltas choro
Por isso estás perdoado!
Vai lá prá cama dormir
Dá-me um beijo ternurento
Porque tu mesmo birrento
Às vezes fazes-me rir!
Ai meu Zé tão azarado
Que ias morrendo à chuva
Já lá estavas enterrado
E eu aqui…triste e viúva!
Oh! Mulher cala essa boca
Não vês que estou a sofrer
Eu não quero já morrer
Tu é que estás a ficar louca!
Ainda por cima, sou ruim
Dizes mal de quem te ama
Vai é meter na cama
Pois já te conheço assim!
Não me venhas com melopeias
Que de estou farta de cantorias
Esperando por melhores dias
E de coisas menos feias!
Estás-me a chamar de feio
Pois vê lá bem o que dizes
Porque pra sermos felizes
Nem queiras ver se vareio!
Ai minha mãezinha querida
A pancada fê-lo piorar
Como é que eu vou aguentar
Esta figura atrevida!
Olha, fica sozinho pra aí
Que eu vou lá ver o gado
E que estejas mais animado
Quando eu voltar aqui!
Amanhã é outro dia
E quem sabe o vento mude
E se já tiveres saúde
Não me dás mais arrelia!