25 de dezembro: festa de confraternização dos telhados
O que há por trás da verdade aparente
Que não se vê no vai-e-vem dos indigentes?
O que há de sensacional no desperdício
Que patrocina o vício?
Do alto da torre, fotografo o mundo:
Formigas pisoteadas sem rumo
Famílias prisioneiras do consumo
Festas natalinas de prato fundo
Antigo ritual de gozo mesquinho
Depois da ressaca, o grande arroto
Vão-se o pernil, o chester, o vinho
Em forma de merda pelos esgotos
A vida é uma contagem regressiva:
Do fim dos tempos
Até a primeira alma viva
Contos de demos e bentos
Para aliciar a violência remissiva
Rasgo o dossiê que registro por ora
Urgência letárgica em batizar alguém
Sou sujeito da minha própria história
Mas sozinho, contarei a quem?