Antes do Anoitecer
Só se fala em vestido;
Só se fala em jantar;
Em presentes e
Quando o carnaval vai começar.
Ornamentam suas favelas;
Põem um pano em suas misérias.
Cobrem de sensibilidade o terror de um ano inteiro.
Proclamam à esperança,
Para ninguém ver a indiferença;
A desiguldade que estar.
Ornam os postes;
Floream a mídia com serpentinas,
Para esconder as chagas dessa ferida tão tua quanto minha.
Tocam músicas,
Fazem agrados...
Para vedar a boca do gemido doído.
Assim dizemos Feliz Natal.
Todos veem.
Ajoelham-se, abraçam-se,
Comem e festejam.
Esqueçem do que realmente precisam e não nunca tiveram.
Fazem as pazes com as horas,
Põem nas meias seus pedidos e
Agradecem ao Deus menino falecido,
Quão feliz é se viver.
Enquanto a ignorancia anda solteira,
Se encontrando com a fome do outro lado do muro;
Para fazer filhos sofrerem nas ruas,
Para obrigar pais morrem na noite crua.
A gente acredita...
Dizendo feliz natais.
Mas quando amanhece...
Embreagados pelo vício,
Pelo prazer...
Mortos pela farra.
Duro será viver no meio do lixo,
Das cinzas, que o nada,
Da noite passada nos fez ver como essência,
Para uma realidade, que jamais se vai poder ter.
Fácil é escrever;
Trocar presentes que não irão resolver os verdadeiros males;
Fácil é só por um segundo, fechar os olhos e viver.
Não sentir a responsabilidade que se deve ter.
Assoalhar ao chão,
Amar verdadeiramente o irmão.
Não ver as roupas,
Não querer demais,
Mas segurar a mão.
Começar de novo...
Talvez seja o elo que se perdeu da direção.