Peregrino
Peregrino
Colocou asas nos ombros
Plantou árvores nos mares
Construiu telhados nas casas
Dentro de nós mora um anjo
Subiu degrau por degrau
Carregando fardo nas costas
Correndo atrás de estrelas
Só para tê-las em si
Pra dar um pouco de brilho
A quem tem sede de fome
Colocou caneta no dedo
De quem não escreve seu nome
Percorreu longos caminhos
Largos e becos sinuosos
Canto triste de passarinhos
Pulando de galho em galho
Pelos caminhos da vida
Onde tudo é atalho
Encontros e despedidas
E nem saudades são mortas
Onde estrelas são tortas
Até cacto é comida
Mas nem um naco de pão
Quê Vida! Quê Vida!
O sertão tá tão árido
Nem formiga resiste
Nem um sorriso pálido
Nem um pingo de orvalho
Outros só veem seu umbigo
E tantas crianças nuas
Só pele e osso no corpo
Enterradas em cova rasa
Em plena luz da manhã
Tanta tristeza meu Deus
Eu já vi nessa vida
Imploro aos olhos Teus
Tende piedade! Pietá!
Do outro lado da parede
Sombras em imenso salão
Jóias que valem casas
Mármore cobrindo o chão
Resto de manjar de deuses
É jogado no lixo
No bocejo da noite
A fome na boca dos bichos
O gado morrendo de sede
O corvo devorando carcaça
A Lua nos céus do luar
Clareia o véu da desgraça
O vento com garras de açoite
Não cansa de assobiar
Lágrima e pó de estrada
Servem de alimento
Meu sorriso inda chora
Sempre que tento sorrir
A boca sussurra uma reza
Dentro de mim eu morri
Enterro minh'alma na terra
A vida é estrada sem fim
Sinto que eu não escrevo
Um anjo escreve por mim...
Tony Bahi@.