Peregrino

Peregrino

Colocou asas nos ombros

Plantou árvores nos mares

Construiu telhados nas casas

Dentro de nós mora um anjo

Subiu degrau por degrau

Carregando fardo nas costas

Correndo atrás de estrelas

Só para tê-las em si

Pra dar um pouco de brilho

A quem tem sede de fome

Colocou caneta no dedo

De quem não escreve seu nome

Percorreu longos caminhos

Largos e becos sinuosos

Canto triste de passarinhos

Pulando de galho em galho

Pelos caminhos da vida

Onde tudo é atalho

Encontros e despedidas

E nem saudades são mortas

Onde estrelas são tortas

Até cacto é comida

Mas nem um naco de pão

Quê Vida! Quê Vida!

O sertão tá tão árido

Nem formiga resiste

Nem um sorriso pálido

Nem um pingo de orvalho

Outros só veem seu umbigo

E tantas crianças nuas

Só pele e osso no corpo

Enterradas em cova rasa

Em plena luz da manhã

Tanta tristeza meu Deus

Eu já vi nessa vida

Imploro aos olhos Teus

Tende piedade! Pietá!

Do outro lado da parede

Sombras em imenso salão

Jóias que valem casas

Mármore cobrindo o chão

Resto de manjar de deuses

É jogado no lixo

No bocejo da noite

A fome na boca dos bichos

O gado morrendo de sede

O corvo devorando carcaça

A Lua nos céus do luar

Clareia o véu da desgraça

O vento com garras de açoite

Não cansa de assobiar

Lágrima e pó de estrada

Servem de alimento

Meu sorriso inda chora

Sempre que tento sorrir

A boca sussurra uma reza

Dentro de mim eu morri

Enterro minh'alma na terra

A vida é estrada sem fim

Sinto que eu não escrevo

Um anjo escreve por mim...

Tony Bahi@.

Tony Bahia
Enviado por Tony Bahia em 23/12/2013
Reeditado em 24/12/2013
Código do texto: T4623246
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