Itinerário Idílico
Punge a luz solar na tristeza anil entre nuvens
Em direção a olhos de esmeraldas e safiras
Feitas de uma imensidão de lágrimas
Que escorrem em ondas no colo da terra
Como um soluço de vida que espera estancar-se,
Ao fim do itinerário torna-se morna
Na medida em que se aproxima das lágrimas
E num breve momento marejam olhos castanhos
Maquiados numa coroa lúgubre dourado-púrpura,
Mas quando a luz naufraga o seio da terra esfria,
Lágrimas surdas estouram em rochas frígidas
E as entranhas da terra congelam
Bloqueando a passagem para o colo desta,
O mundo tem suas pupilas dilatadas numa negra vastidão
Que devasta a esperança verde das esmeraldas,
Estanca a tristeza azul que a safira refletia,
Apaga as flores mornas do velório do ocaso
E feito uma lástima suicida de Ofélia
Emerge o luar pálido boiando prenhe de melancolia
Como um mórbido afago de lamentos sutis
Em contrapeso do desvairado furor noturno
Que irrompem ondas negras de volúpia em fluxo
Contra o colo da terra abrindo os olhos de rubis
Ruivos em loucura acesa nas almas dos homens
Para arder e queimarem as entranhas frígidas
Da terra ausente de luz, e num gozo de caos
Retrair as pupilas do mundo no alvorecer
Das efêmeras quimeras atidas na estrela da manhã
Desvanecendo o escarno cáustico da loucura
Que o pranto da noite nos implora a arder
Depois de milhares de itinerários iterados,
Tudo que é ardentemente valioso
Esta sempre em clima de despedida
Embora se repita freneticamente
Para quem apenas contempla o gozo da vida
Na brutal natureza de tudo
Que em gestos idílicos
Nasce chorando
Por já esta dizendo adeus.
07/12/2013