Como as asas de Ícaro


Se querias me lançar ao inferno em que ora me encontro,
Sentindo-te distante, do alto da moral em que te postas,
Sem ver que já não mais levo as asas as minhas costas,
Asas que deste para que voássemos juntos, em reencontro.

Se era para me abandonar assim, em pleno voo, sozinho,
Deixando-me cair do portentoso céu em que me encontrava,
Julgando que afinal tinha para sempre a mulher que amava,
Em meus braços, em meu colo, em meus anseios, em meu ninho.

Não deverias nunca, jamais, nem mesmo sequer por instante,
Ter-me acolhido em teu voo, chamado-me a voar novamente,
Deixado que se perpetuasse por todo sempre em minha mente,
As lembranças de um passado, quando foste a amada amante.

Não deveria, não poderia, como o fiz, ter-te confiado a própria
vida, embalado em sonhos que eu julgava serem somente meus,
de um dia voarmos juntos, eternamente, e que também eram teus,
e hoje me prostro, bêbado de teu amor, e tu partes, solene, sóbria.

Qual Ícaro, que pretendeu voar alto, junto às estrelas, ao céu,
Sem observar que o calor do sol de que tanto se aproximou,
Derretera a cera que fixava as penas de suas asas e o projetou
Ao chão, chão onde de novo me encontro, frustrado, ao léu
LHMignone
Enviado por LHMignone em 21/12/2013
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