Urbanidades
A avenida fala de trepadeiras desfolhadas, rodando raízes,
bocas vermelhas rosadas violáceas
incapazes à auto síntese.
O asfalto diz de vias cansadas, nubentes em lua de fel
ou antigas fazedeiras de anjos, demônios, rodamoinhos...
E sabe da chuva que não bebe o solo nem entranha em novas nuvens.
O poste reclama dos anuncios - papéis de cartomantes, festas, outros cães desaparecidos, que nem os donos;
o fio conta do passarinho tão encapado quanto.
As buzinas cantam o que passarinhos não.
E a chuva barulha de menos - gotas incertas,
sem respingo pelas frestas;
insônia sazonal.
A calçada abarrotada
de não passos
só percebe as cadeiras sem vizinhos...
Da varanda do sexto andar o corpo cai.
Dois vãos acima, do piso mármore ao teto em gesso, outra solidão flutua.