Urbanidades

A avenida fala de trepadeiras desfolhadas, rodando raízes,

bocas vermelhas rosadas violáceas

incapazes à auto síntese.

O asfalto diz de vias cansadas, nubentes em lua de fel

ou antigas fazedeiras de anjos, demônios, rodamoinhos...

E sabe da chuva que não bebe o solo nem entranha em novas nuvens.

O poste reclama dos anuncios - papéis de cartomantes, festas, outros cães desaparecidos, que nem os donos;

o fio conta do passarinho tão encapado quanto.

As buzinas cantam o que passarinhos não.

E a chuva barulha de menos - gotas incertas,

sem respingo pelas frestas;

insônia sazonal.

A calçada abarrotada

de não passos

só percebe as cadeiras sem vizinhos...

Da varanda do sexto andar o corpo cai.

Dois vãos acima, do piso mármore ao teto em gesso, outra solidão flutua.

Gina Girão
Enviado por Gina Girão em 20/12/2013
Reeditado em 21/03/2019
Código do texto: T4619186
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