[Ondulações do Absurdo]
A vida é senoidal — Será?!
Uma monotonia de
picos e vales,
vales e picos,
picos e vales...
E a loucura de a gente escorregar nessas ondulações absurdas!
Pessoas
que se aproximam de mim sem ao menos uma explicação;
que se afastam de mim sem ao menos uma explicação —
na mesma coisa tudo dá, tudo dá na mesma coisa... pois,
há recorrência no espanto — eu é que teimo em ignorá-la!
Perda é a marca do real que se cria:
gente que vem,
gente que se vai,
gente que para na Estação sem saber por quê,
gente que teima em fazer alguma diferença.
Porém, seja por morte, ou por esquecimento,
inexplica-se a perda:
é perda na vinda que eu divisei mal,
é perda na partida que eu nem divisei,
perda de gente que vem, perda de gente que vai:
explicar é apenas uma ingênua tentativa
de querer ter sempre razão!
[Será que tudo me advém desta absurda mania
que eu tenho de nomear as coisas?]
Ora... com alicate de pressão, ou com chave inglesa —
eu não consigo arreglar a matéria essencial dos sentidos:
a loucura, o absurdo das ondulações da vida!
Então... eu te suplico:
estamos numa Estação,
ama-me, ama-me!
Louco ou poeta,
[dá na mesma?],
ama-me no quando,
ama-me sem pudor,
ama-me... até a partida,
ama-me até o estupor
absurdo da gare vazia!
[É assim que eu te amo].
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[Desterro, 19 de dezembro de 2013]