Este meu coração mochileiro
Já percorreu o mundo inteiro
Atrás de um sonho de infante,
Foi marujo, poeta, cavaleiro,
Caubói, operário, aventureiro,
Executivo, poeta e estudante.
 
Filósofo, com tese defendida,
Achei que sabia muito da vida
E que já estava tudo arranjado.
Mas depois da rota percorrida
Vi que a única coisa aprendida 
Foi a arte do ator sob o tablado.
 
Tal era a minha especialidade:
Combinar ilusão com realidade
Para vendê-las como panaceias,
Para quem não tInha habilidade 
Para fazer da própria insanidade
Um fértil repertório de ideias.
 
Os sonhadores são numerosos,
Mas muito pouco os corajosos,
Que acreditam e acompanham.
Sonhos podem ser mentirosos,
Mas há verdade nos medrosos
Que afirmam que não sonham?
  
Eis que se chega á certa idade,
E alguém que se diz Realidade
Afirma que é bobagem sonhar,
Porque a verdadeira felicidade
Só se encontra na capacidade
Que a gente tem para realizar.
 
A prova disso é a competência
Com que se acumula influência 
Poder e outras coisas de valor.
Pois nisso é que está a evidência
De que se foi homem de ciência,
E não apenas um bobo sonhador.
 
Porém, meu coração matreiro,,              
Continua sendo um mochileiro.
Pois ele acha ser muito errado 
Trocar seus sonhos por dinheiro
Que no fim vai para um herdeiro
Que talvez nem diga obrigado.