Vermelho de Vênus
Teus olhos abriram como concha
Revelando a pérola de tua alma
Lapidada após tua primeira década,
Teu despertar suave e vivaz é substituído
Pela letargia de teus membros
Que se rebelam contra a rotina de teus movimentos,
Teu caminho sólido se desfaz em vertigem
Causada pelo precipício de emoções que se abre em teu coração,
Um arco-íris de flores se desfaz numa hemorragia solar
Inundando e ardendo de vermelho púdico
A flor que entre o véu se abre para a vida,
Cólicas coléricas descolam coágulos
Numa chuva endométrica de favos rubros,
Prelúdio de sangue que configura tua luta e sobrevivência
Em milênios de violência brutalmente estruturalizadas
Por uma cultura que tem a face barbada da barbárie,
Um delírio de contornos surge pela arquitetura do tempo
Em teu templo, somente teu, que os bárbaros barbados
Profanam, pilham, tomam posse através de toda história
Sob a égide do amor estigmatizado pelo ódio,
Vênus violentada pela virulência de narrativas sangrentas
Travestidas de sedução, beleza e paixão,
Vermelho é a mancha na roupa como flâmula
No íntimo de tua história de resiliência, resistência…existência.