SAIDEIRA
Vou pegar um galope à beira-mar
escrever na areia teu santo nome,
consumir essa aflição que me consome,
proferir pensamentos alucinados,
produzir sentimentos com passados,
pra rasgar o futuro complacente,
rascunhar teus lábios e entre os dentes,
fazer papel picado do presente,
dar o bote apagando a lua cheia
e beber o veneno da serpente.
Vou compor pra repor a saideira
no mourão da porteira assoviar,
tão carente de amor ali rezar
de joelho pedindo luz e guia.
Inalar a fumaça e a maresia
assoprar embaçando a retina
como fosse uma imensa serpentina.
Depois de soltar fogo pela narina
feito o papo de uma carabina
deixarei tudo na mão divina.
Quero visitar marte e no ensejo
vadiar por plutão à luz do beijo,
amarrar um relâmpago no rabo do capeta
pro mundo pensar que é um cometa.
Tão sutil sempre olhando pela greta
vou apagar teu nome na areia,
amar-te até que venha a lua cheia
deixar meu legado à moda antiga
e se nada der certo ninguém liga,
pois a erva a tudo desnorteia.
Saulo Campos - Itabira MG