Os ouvidos vazios de hinos

Que fraqueza esta, a do ser humano

Que o põe num canto existencial

Abraçando a presença, mas apenas difusa, volátil

Segurando as mãos feitas de nada

Frias, de neblina

Tudo sem o calor do sangue

Sem a batida do coração

Os ouvidos vazios de hinos

Eis outra vez o Natal

E na garganta não cabe

Não passa

O nó do distanciamento espacial

Apegada ao material

Sinto ainda maior o poço do Natal

Cujas luzes se apagam

Cujas festividades fazem até mal

Tudo próprio do Natal

Pudera acalentar o menino Jesus

Tê-lo em meus braços

Não deixá-lo chorar

Ajoelhar-me à manjedoura

E beijar-lhe os pezinhos

Sentir daquele menino o corpinho

Isto então seria a salvação alcançar

O que, por sinal, como bem se sabe,

(Mesmo caminhando para o sacrifício)

É o ofício do Natal