Daqueles Detalhes que Observei
Daquele beijo que eu não dei
ficou um gosto de imaginação,
ficou uma certa palpitação
como sensação no coração.
Daquele abraço que eu esperei
ficou sabor de decepção,
ficou desejo sem paixão
redemoinhando no coração.
Daquele olhar que eu vislumbrei
ficou distância e observação,
ficou encravado n’alma uma ilusão
de que seria recíproca a ação.
Daquela flor que eu não colhi
ficou um gesto de comiseração,
ficou à mercê das borboletas
em um jardim na contramão.
Daquele pássaro que eu libertei
ficou um canto de recordação,
ficou gravado no eu profundo
como um gesto de sublimação.
Daquela poesia que eu escrevi
ficou um verso sob metáfora,
ficou a sede diante a ânfora
mas não bebi, apenas contemplei.
Daquela tarde que eu anoiteci
ficaram cores no horizonte,
ficou a estrela com ar distante
a esperar uma compreensão.
Daquela noite que eu adormeci
ficou um sonho na consciência,
ficou sequela na inconsciência
e minha vontade ressuscitou.